Ele sempre criou tendência, desde os cabelos ruivos aos shows teatrais. Mas agora David Bowie recebe os créditos de ter criado algo não tão glamuroso: a atual crise econômica.
O colunista Evan Davis publicou em um artigo no jornal Daily Mirror da última segunda-feira (12) a possível relação entre o cantor britânico, dono dos sucessos "Starman" e "The Man Who Sold The World", e a atual crise no sistema de crédito bancário que aterroriza os economistas: "Até mesmo quando se pensa em finanças Bowie abriu caminhos - lá em 1997 ele fez algo chamado 'securitização'".
Securitização nada mais é do que transformar ativos (dinheiro, equipamentos, ou qualquer patrimônio de valor) nos chamados "títulos mobiliários", passíveis de negociação.
O que Bowie fez em 1997 foi vender parte dos direitos de suas músicas em forma de títulos, chamados "Bowie Bonds", a quem se interessasse. O motivo disso era movimentar uma grande quantia de dinheiro em pouco tempo com as vendas destes Bowie Bonds, em vez de ter que esperar anos até que o dinheiro vindo dos direitos autorais somasse uma quantia significativa.
Davis explica que esta jogada financeira de David Bowie inspirou os bancos a fazer o mesmo, numa escala muito maior. "Os bancos compraram a idéia. Eles pensaram "temos bilhões em hipotecas que vamos receber aos poucos. Porque não as vendemos e conseguimos o dinheiro agora?", explica o colunista.
Títulos mobiliários
A pessoa que tem um título mobiliário recebe parte do lucro destinado à origem deste título. Isso mudou a maneira com que os bancos lidavam com empréstimos. "Normalmente um banco pega dinheiro emprestado de pessoas como eu e você, para então fazer empréstimos a terceiros." esclarece Davis. "Hoje os bancos criam pedaços de papel, chamados títulos mobiliários, e dizem que quem tiver este papel terá o dinheiro vindo dos empréstimos".
Resumindo: os bancos vendem dívidas em forma de títulos garantindo que, quando os devedores pagarem, quem receberá será o dono do título.
Acontece que, criando essa maneira de poder emprestar mais dinheiro do que se tinha em caixa, os bancos acabaram por exceder o limite sensato de empréstimos. E pensando que esta seria uma mina de ouro, os bancos acabaram por comprar estes títulos para eles mesmos, como explica o colunista em seu texto.
A crise do crédito
Davis conta que a partir deste cenário a coisa começa a ficar crítica. Os bancos acabam por emprestar muito dinheiro à quem não pode pagar. Sem o dinheiro dos devedores, os papéis que o próprio banco tinha comprado de si próprios deixam de ter valor, e o banco perde uma quantia de dinheiro suficiente para abalar a estrutura financeira da instituição.
Como ninguém mais quer comprar títulos devido ao alto risco de inadimplência, os bancos ficam com cada vez menos dinheiro nos cofres, e com isso não podem emprestar mais nada. E está formada a crise do crédito. Para Davis, a solução deste problema seria injetar dinheiro nos bancos para que o sistema de crédito se regularize.
O colunista encerra dizendo que "era tudo muito estiloso quando Bowie fez isso daquela vez. Dez anos depois não é mais.", e dá um conselho: "O mais sensato para se fazer é ser um pouco mais cauteloso com dinheiro no momento".
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