Os cultivos transgénicos não representam somente uma ameaça para o meio ambiente e a saúde. São além do mais um mau negócio, para todos, salvo para as seis transnacionais proprietárias das sementes transgénicas a nível global e alguns dos funcionários e cientistas que recebem bónus para que elas possam continuar com os seus lucros.
Nos últimos anos publicaram-se vários estudos independentes sobre os resultados económicos dos transgénicos, que convergem em demonstrar perdas significativas para os agricultores. A Greenpeace México publicou recentemente o relatório “Cultivo$ transgénico$, cero ganâncias”, baseado num relatório elaborado por Edward Hammond, aumentado e adaptado ao contexto mexicano.
Essas perdas afectam directamente os agricultores de várias maneiras (sementes mais caras, menor rendimento, resistência em insectos e ervas daninhas, maior trabalho para o controlo de plantas infestantes, processo judiciais por contaminação, perda de mercados), mas também significam custos significativos que, ao serem absorvidos por instituições públicas, se transladam para todos.
Um dos casos referidos é a contaminação com o arroz transgénico LL601 da Bayer. O departamento de agricultura dos Estados Unidos detectou em 2006 que a contaminação com este arroz transgénico não aprovado para consumo humano, tinha chegado ao fornecimento de alimentos. Perante o anúncio, imediatamente caiu o preço do arroz americano nos mercados de futuros, provocando uma perda média de 70 mil dólares por arrozal. O Japão e a Europa fecharam as suas portas à importação de arroz procedente desse país. Apesar disso, foi encontrada contaminação em países europeus e depois em África e na Ásia, desde as Filipinas ao Gana.
O relatório detalha as perdas, para os agricultores americanos, estimadas entre 740 mil e 290 milhões de dólares no total, devido à queda de preços, perda de mercados e limpezas dos seus campos e celeiros. Esses custos não incluem os de provas de detecção, nem tampouco os gastos legais para processar a Bayer, trâmites que ainda prosseguem. Não foi permitida uma acção colectiva (ou seja, que o julgamento contra a Bayer fosse válido para todos os afectados, mas somente para os que iniciam o julgamento). A Bayer nunca explicou como a contaminação tinha chegado aos alimentos e, apesar de ter sido condenada pela sua conduta “laxista” em bio-segurança, a empresa afirmou que tinha excedido “os standards da indústria para evitar a contaminação” e que “nem as melhores práticas podem garantir a perfeição”.
O caso deveria constituir uma lição para o México, porque aqui as empresas comportar-se-ão da mesma ou pior maneira face à contaminação transgénica, que será inevitável se o milho for semeado em campo aberto. Qualquer custo relacionado com a contaminação será automaticamente transferido para os agricultores e camponeses (que deverão enfrentar qualquer custo legal por si mesmos). Seguramente haverá menor fiscalização que nos Estados Unidos, porque os contaminados serão sobretudo camponeses e milho nativo, que não é considerado valor monetário a proteger. As empresas dirão que o problema da contaminação em nenhum caso é delas, porque o governo e os agricultores são responsáveis pelas medidas de bio-segurança, não elas.
Outro exemplo considerado no relatório são os custos devido à resistência das ervas invasoras. Como a maioria dos transgénicos são manipulados para ser resistentes a herbicidas, o uso destes aumenta consideravelmente, gerando resistência nas ervas que se pretende combater. A nível global, há 16 ervas que se tornaram resistentes ao glifosato. O departamento de agricultura dos Estados Unidos reconhece nove como problemas sérios. O documento considera o caso do quintonil, uma amarantácea que existe e se consome no México, prima-irmã do amaranto branco amplamente difundido no país, com o qual se elaboram os doces de amaranto. O quintonil é considerado erva invasora nos cultivos industriais, nos Estados Unidos tornou-se resistente ao glifosato (devido aos transgénicos) e invadiu de tal modo os campos de algodão, milho e soja, que em várias zonas, principalmente algodoeiras, já só se pode fazer o controlo de plantas infestantes manualmente. Para os agricultores, significou pagar maior custo de semente, maior custo por herbicidas (por preço e maior volume) e acabar por fazer ou pagar o controlo manual de plantas infestantes.
No México, além dos impactos sobre os agricultores industriais, significará arruinar, juntamente com o milho, o amaranto, outro dos cultivos nativos do país essenciais para a vida camponesa, um elemento altamente nutritivo que faz parte da alimentação popular.
O relatório nomeia vários outros exemplos que dão uma sólida mostra das perdas económicas que os transgénicos significam. Outro relatório publicado em 2010, intitulado “Quién se beneficia con los cultivos transgénicos”, da Amigos da Terra, complementa o panorama.
Talvez se pergunte por que é que os agricultores continuam a cultivar transgénicos se causam perdas. Em parte, porque os agricultores industriais não têm sementes e dependem totalmente do que as transnacionais lhes “oferecem”. Estas controlam o mercado de transgénicos, mas também o das sementes comerciais. Preferem vender transgénicos, porque cobram a semente bem mais cara e podem cobrar extra por outros rubros.
Adicionalmente, as empresas gastam dezenas de milhões de dólares anuais para “influenciar” os governos e reguladores a seu favor. Segundo a Business Week (21/6/10), só no último trimestre de 2009 e primeiro de 2010, a Monsanto gastou 4,99 milhões de dólares no lóbi ao governo dos Estados Unidos. Seria necessário se o produto fosse bom?
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