Ido Welp (*)
O poderoso Federal Reserve (Fed) está sendo testado até os seus limites, tanto do ponto de vista dos problemas que lhe são trazidos para resolver, quanto do ponto de vista do seu poder financeiro. Ele está agindo como instituição de crédito de último recurso - aquela à qual recorrer quando todas as outras tentativas falharam.
Uma boa forma de ver os problemas pela estratégia de tapar o buraco do dique com o dedo é relembrando o primeiro grande socorro dos tempos modernos. Antes do AIG, Fannie e Freddie, e Bear Stearns, havia a Chrysler.
Em 1979, quando era ainda a décima maior empresa do país, a Chrysler se viu à beira do colapso, em grande parte porque os altos preços do petróleo tiraram o poder de atração dos grandes carros, que consomem muita gasolina. Os executivos da empresa e os líderes sindicais foram para Washington de chapéu na mão, argumentando que o colapso da Chrysler faria estrago inaceitável na economia americana. O Congresso e o governo Carter responderam arranjando US$.1,2 bilhão em empréstimo subsidiado. O governo Reagan ofereceu mais ajuda em 1981 ao restringir as importações de caros japoneses.
Na superfície, o resgate da Chrysler foi um grande sucesso. Sob o comando de Lee Iacocca, a empresa produziu a linha K-car de veículos de menor porte, como o Dodge Áries, assim como o original minivan. Em meados dos anos 1980, a Chrysler quitou os empréstimos. Iacocca apareceu na capa da revista Time como o "O triunfo de Detroit" e sua autobiografia apareceu no topo da lista de livros mais vendidos.
Pode-se traçar uma linha clara de socorro para a Chrysler até as recentes tentativas de estabilizar Wall Street. Naquela época, Washington insistiu em exigir sua parte como o congelamento salarial dos funcionários, em troca da ajuda financeira.
Em 1979, o governo estruturou a ajuda para a Chrysler de forma que os contribuintes pudessem ter lucros dela (o que tiveram). Agora o Fed efetivamente comprou papéis do Bear Stearns, que espera vender com lucros quando os mercados financeiros se acalmarem. É muito cedo para saber se a estratégia terá sucesso da mesma forma que teve há três décadas.
Mas se pararmos para pensar nessa história, perceberemos que o socorro pode ter salvado a Chrysler, mas nada fez para deter o longo e triste declínio de Detroit.
George Soros, megainvestidor, opina que, além da bolha imobiliária - o gatilho que disparou essa crise financeira atual -, há também outra "superbolha", há 25 anos. Na verdade, ela começou em 1980, quando Margareth Tatcher, do Reino Unido, e Reagan, dos EUA, implantaram o que se chamou de "fundamentalismo de mercado". Trata-se da crença de que é melhor para os mercados que sejam deixados aos seus próprios cuidados. Que eles são seus melhores reguladores. Isso passou a ser um dogma ideológico.
Já Alan Greeenspan, ex-presidente do Fed, diz: "Nós consumimos mais que produzimos. Gastamos mais que ganhamos. Isso gera um déficit constante para a economia americana". Esse déficit constante é financiado por superávit de outras economias, como a chinesa, maior compradora de títulos do Fed. Se isso eclodir, a crise mundial será maior que a Grande Depressão de 1929.
(*) professor da Univates
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