sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Histórias para não se ler na escola

É um belo dia na cidade cinza que foi fundada por católicos que não acreditavam mais em deus a pouco menos de meio milênio, patos migram para o sul em vê, vendedores aturam clientes insatisfeitos que tem sempre a razão e clientes aturam vendedores insatisfeitos que tem sempre algo mais caro para oferecer. papai noel faz seus brinquedos para as crianças comportas e embala cascas de banana para os pestinhas que sabem aproveitar a vida. tem gente que espera pelo papai noel, tem outros que simplesmente não lhe dão importância. mães preocupadas com a alimentação dos filhos compram elma chips no mercado junto com um creme branco que serve para os dentes das pessoas não apodrecer e cair antes de ter dinheiro para comprar uma chapa e uma velinha escutando o rádio porque eu adoro velinhas pega uma cerveja gelada no alge de seus 90 anos para beber e esquecer o que ela nem se lembra mais.
Pedro ernesto caminha pela rua com uma mochila nas costas e as mãos no bolso. seu cabelo voa com a vento e mostra as entradas para carecas que ele teima em esconder. passando por uma placa onde uma loira com pernas com cara de puta mostra os seios numa propaganda de óculos ele dobra a esquerda e dá de cara com uma quadrilha, não que fosse realmente isso, mas foi isso que lhe pareceu naquele momento, uma onda de medo lhe apoderou, como um bem-te-vi que comendo alegremente um abacate no chão levanta a crista para dar de cara com um galo, não que o galo fosse lhe fazer algo de ruim, mas o galo é maior e vai saber não, Ernesto força o olhar para frente e tenta pensar no cartaz da puta para se alegrar mas isso ele não se lembra, nessas horas ninguém se lembra de nada, só de correr a qualquer movimento suspeito. um dos integrantes da suposta quadrilha, um negro alto bombado com capuz de americano e vestindo uma jaqueta do legião hurbana se aproxima e bem de pertinho pede um beijo, digo, errei, pede um crivo.
- tem um crivo?
- não.
- e o que que tem ai?
- um canivete. toma.
litros de sangue vermelho cor de sangue talvez porque fosse sangue jorrou nublando a cena como num brutaliti do motal kombat três. Ernesto assustado até com sigo mesmo esquece o canivete cravado na jugular do assaltante e corre duma maneira que forrest gamp passaria vergonha. a quadrilha tenta lhe alcançar mas nem o peso da mochila, nem o cadarço desamarrado tornam isso possível, sem olhar para traz ernesto corre, corre, parecia um lebrão na frente de uma camionete turbinada de um homem mal amado que dá sinal de luz, a cidade parece encurtar e quase no fim da linha ele para com as mãos no joelho para ver se o pulmão ainda consegue puxar ar mas não sem antes confirmar que não foi seguido. "aqui ó não resistir a assalto".
retomando o fôlego ele volta a caminhar e pensar na cena, "meu deus, ninguém vai acreditar" "essa foi pior que aquela vez que um gordo rolou por cima de mim depois de eu ter lhe chamado de depósito municipal de gordura para sabonete" "crendio em deus pai". uma combi vermelha com uma russo dirigindo passa vendendo sorvete e um homem de terno o mandando parar compra a combi leva oito sorvetes e diminui o salário do russo. "cara, será que matei ele?" "não, não pode ser, foi só uma canivetada de nada, e eu nem tirei o canivete, dá para ir caminhando para o hospital mais próximo esperar pela fila do sus e ainda ser atendido com vida, aposto que dá" o russo vai embora com a combi e o homem de terno entra numa loja comprar uma maleta preta para encher de papéis muito importantes. "acho melhor ligar para mamãe, ela saberá o que fazer." pensa ele "não" diz um diabinho surgindo em seu ombro direito "aquela vaca vai lhe dizer o que a tv diz, que não se pode reagir a assaltos, você sabe muito bem que assaltos existem para serem contra-atacados, foi para isso que você comprou um canivete ou vai me dizer agora que foi para cortar as cutículas, a faço me o favor" Ernesto confuso olhou para seu outro ombro "e não me venha com xorumelas, anda logo que teu ônibus está esperando" "mas e cadê o anjinho?" "não tem anjinho, dei um pau naquele bixa depois que ele tentou te convencer a fazer plástica, e convenhamos, é muito melhor só nós dois." dizendo isso o diabo sumiu e foi chupar umas bergamotas no intervalo da apresentação de Fausto do cine guarani.
Ernesto piscou, disse "que coisa não" e seguiu seu rumo pensando em que coisa mais feia que fica as mulheres nas revistas com aqueles sovacos bronzeados e aquelas caras de quem está chupando pitanga com gosto de bosta.
Amém.

Pablo La Mari

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